sábado, 26 de setembro de 2009

Como é que a gravidez se relaciona com a psoríase?

Como é que a gravidez se relaciona com a psoríase?

As alterações hormonais têm impacto na psoríase?


Existem alguns estudos que tentaram estabelecer uma ligação entre as flutuações hormonais e a psoríase. No entanto, muitas mulheres dizem que a sua psoríase melhora durante a gravidez e que se torna ligeiramente pior durante a menopausa. Os especialistas dizem que estas alterações na psoríase em diferentes fases da vida reprodutiva da mulher poderão ser explicadas pelas flutuações hormonais, mas também podem ser devidas a outros factores que ainda não foram identificados.

A psoríase é uma condição cutânea crónica que envolve factores genéticos, imunitários e ambientais. O stress, determinados medicamentos e as doenças infecciosas estão entre os factores ambientais que podem desencadear uma erupção. As alterações hormonais durante a vida da mulher podem igualmente influenciar a condição, quer através do desencadeamento de novas crises ou, pelo contrário, melhorando as lesões.
A maioria das mulheres notam que a sua psoríase melhora enquanto estão grávidas e que esta agrava depois do parto. A condição tende a agravar-se durante a menopausa, altura em que a psoríase tem maior tendência a aparecer pela primeira vez.

Apesar de alguns estudos científicos terem tentado estabelecer uma ligação entre as flutuações hormonais e a psoríase, não sabemos precisamente quais os mecanismos hormonais que desencadeiam a condição e afectam o seu curso.

Pensa-se que estão envolvidos outros factores no aparecimento e subsequentes crises da psoríase para além das flutuações hormonais. De acordo com alguns especialistas, o facto da psoríase aparecer frequentemente no início da adolescência não significa necessariamente que as hormonas sejam a única causa. Em vez disso, sugeriu-se que é o resultado de um programa genético específico.

Apesar de algumas mulheres descreverem que a sua psoríase varia de acordo com o seu ciclo menstrual, ainda nenhum estudo conseguiu provar a hipótese dos níveis flutuantes hormonais, durante o ciclo da mulher, influenciarem as crises de psoríase. À semelhança, nenhum estudo demonstrou claramente um efeito positivo ou negativo da pílula contraceptiva.
 



 

E se eu estiver grávida?


A psoríase não é necessariamente uma barreira à gravidez. Nem tão pouco afecta a capacidade da mulher em criar os seus filhos.

Muitas pessoas que têm psoríase têm medo de passá-la para os seus filhos. Como a psoríase não é uma doença contagiosa, não existe o risco de transmití-la à criança durante a amamentação ou quando se acaricia o bebé. No entanto, existe uma predisposição genética para a psoríase. De acordo com os estudos, há um risco de 8% a 15% de transmissão quando um dos pais tem psoríase e um risco de 50% a 60% quando ambos os pais estão afectados.

As mulheres com psoríase preocupam-se frequentemente se engravidam. Perguntam-se se o bebé irá desenvolver-se normalmente. Serão capazes de amamentar o bebé? A psoríase irá agravar-se durante a gravidez? Os tratamentos que estão a utilizar serão seguros para o bebé?

O tratamento de mulheres grávidas é problemático, especialmente se estas tiverem psoríase grave, precisando de parar quase toda a medicação sistémica, porque esta pode originar anomalias congénitas.
As mulheres devem informar o seu dermatologista quanto antes se planeiam engravidar. O dermatologista será então capaz de avaliar se o tratamento psoriásico pode ser mantido durante a gravidez e prescrever uma nova medicação, se for necessário.

As mulheres que sofrem de artrite psoriásica sentem por vezes mais dores devido ao peso ganho durante a gravidez.

A maioria dos estudos que envolveram mulheres grávidas demonstram que a gravidez afecta a psoríase.
Um estudo americano* realizado em 248 mulheres com psoríase teve por objectivo identificar as alterações hormonais que surgem durante a gravidez e a menopausa e que têm um grande impacto na psoríase.

O estudo demonstrou que 30% a 40% dos doentes do sexo feminino avaliados registaram uma melhoria da sua psoríase durante a gravidez, a maioria durante o primeiro trimestre. 20% destes doentes descreveram que a condição tinha-se agravado e os outros não notaram quaisquer diferenças. Este estudo também demonstrou que a idade dos doentes e a intensidade da sua psoríase não estavam relacionadas com qualquer melhoria ou exacerbação da condição. Outros estudos descreveram uma melhoria até 63% nas mulheres. Algumas mulheres registaram uma melhoria significativa, porque as suas lesões aclararam durante a gravidez.

A melhoria ou exacerbação da psoríase durante o primeiro trimestre de gravidez pode ser usada para vaticinar o que irá acontecer nas gravidezes seguintes. O estudo mencionado demonstrou que 87% das mulheres que tinham vários filhos tinham tido a mesma resposta durante cada gravidez.
Apesar de não sabermos exactamente porque é que a psoríase melhora durante a gravidez, foram avançadas várias hipóteses. Alguns investigadores acreditam que as maiores quantidade de estrogénio e progesterona segregadas pelo organismo protegem-no da psoríase. Estas hormonas exercem um efeito imunossupressor temporário que é benéfico nos processos auto-imunitários presentes na psoríase.

Outros cientistas realçam o papel benéfico da cortisona. Durante a gravidez, o organismo segrega mais cortisona, que tem uma acção anti-inflamatória nas lesões psoriásicas (actuando do mesmo modo que um creme à base de cortisona).

É certo que vários factores originam a melhoria das lesões psoriásicas nas mulheres grávidas. Esta melhoria é provavelmente devida ao aumento dos níveis de cortisol, pois esta hormona é segregada tanto pelas glândulas supra-renais da mãe, como pelas do feto. No entanto, quase de certeza que também se deve a outras substâncias que ainda não foram identificadas.

Em determinados casos (em menos de 1 em cada 4 mulheres), a psoríase agrava-se durante a gravidez.
Mais uma vez, as razões desta exacerbação não são conhecidas, mas pensa-se que seja devida a alterações no metabolismo hormonal que estão associadas aos factores de stress.
Algumas mulheres sofrem as suas primeiras crises de psoríase durante a gravidez.


O impetigo herpetiforme é uma forma generalizada de psoríase pustular que surge tipicamente durante a gravidez.

Esta é uma forma de psoríase extremamente severa, nas felizmente muito rara. Surge mais frequentemente durante o último trimestre ou durante a primeira menstruação após o nascimento.
Um terço das mulheres que sofrem de impetigo herpetiforme tem um histórico familiar ou pessoal de psoríase.

Considera-se que os factores hormonais e/ou uma perturbação no metabolismo da vitamina D durante a gravidez poderão causar as crises de psoríase pustular.

A erupção inicia-se normalmente nas dobras cutâneas. Placas vermelhas, que por vezes poderão causar comichão, espalham-se simetricamente pelo abdómen e zona genital. As membranas mucosas também são por vezes envolvidas. As pústulas surgem nas extremidades das lesões.

O impetigo herpetiforme é acompanhado por uma deterioração generalizada da saúde da doente. Entre outros sintomas, esta pode registar náuseas, febre e perturbações mentais.
Os corticosteróides são frequentemente ineficazes e por isso os antibióticos são geralmente utilizados.

Esta condição grave também tem consequências no feto, pois foram registados abortos espontâneos em cada 1 de 2 casos.

A psoríase pustular relacionada com a gravidez desaparece normalmente depois da criança nascer. Em 82% dos casos, afecta mulheres que estão grávidas pela primeira vez. No entanto, existe o risco de recidiva em gravidezes subsequentes.
 
Nos primeiros três meses após o nascimento, a maioria das mulheres com psoríase sofre recidivas, incluindo aquelas que tinham registado uma melhoria durante a gravidez. Os resultados variam de estudo para estudo.

Alguns estudos registam que cerca de 88% das mulheres reportam uma recidiva nos quatro meses após o nascimento.

O estudo americano mencionado anteriormente demonstrou que 41% das mulheres avaliadas reportaram que a sua psoríase se tinha agravado durante o período imediatamente após o nascimento, mas 55% não notaram qualquer alteração.




 

Tratamentos durante a gravidez?


Não existem muitos medicamentos que possam ser utilizados para tratar as mulheres grávidas e a maioria dos fármacos anti-psoriásicos são tóxicos para o feto.

Por vezes a psoríase melhora espontaneamente durante a gravidez, o que significa que a medicação pode ser reduzida.

É importante tratar a pele durante a gravidez, para que não seque demasiado.

Tratamentos tópicos

 

A maioria dos tratamentos sistémicos têm de ser interrompidos durante a gravidez, por isso os dermatologistas tendem a prescrever medicamentos tópicos para tratar as lesões psoriásicas.

No entanto, as medicações de uso externo não estão isentas de efeitos secundários, porque são absorvidas pelo corpo. Algumas devem ser completamente evitadas durante a gravidez porque são potencialmente teratogénicas. Excepto os emolientes, que não apresentam qualquer perigo para a mãe ou para a criança, estes tratamento devem ser aplicados apenas em áreas restritas da pele.
 
Tratamentos tópicos a ser evitados:

Derivados da vitamina A para uso local: estes devem ser evitados devido ao seu efeito teratogénico.
Derivados da vitamina D: estes podem ser usados em pequenas quantidades em áreas muito específicas.

Possíveis tratamentos locais:


Emolientes: cremes hidratantes e suavizantes que podem ser usados sem que se incorra qualquer risco.
Corticosteróides (Cortisona): os dermatologistas prescrevem por vezes corticosteróides em pequenas quantidades para serem utilizados em áreas muito limitadas. Podem aumentar o risco de estrias, por isso não devem ser aplicados em determinadas partes do corpo como os seios, abdómen e coxas.
Exfoliantes como a ureia e o ácido salicílico: estes tratamentos podem ser usados se a sua aplicação for limitada a pequenas áreas da pele.

Tratamentos sistémicos

 

Os tratamentos sistémicos são muitas vezes teratogénicos, o que significa que podem originar deformações graves no feto em desenvolvimento. Estes riscos são muito elevados quando a medicação é tomada durante durante o primeiro trimestre de gravidez. Consequentemente, a maioria dos medicamentos administrados oralmente têm que ser interrompidos durante a gravidez.
 
Tratamentos sistémicos a ser evitados:

Acitretina (e outros derivados da vitamina A) e metotrexato: estes podem causar anomalias congénitas graves e aborto espontâneo em alguns casos. As mulheres que utilizam estes tratamentos têm que usar um método contraceptivo eficaz. As doentes devem igualmente esperar vários meses após terem parado o tratamento (dois anos para acitretina e quatro meses para o metotrexato) antes de planearem uma gravidez, de modo a que não restem quaisquer vestígios dos fármacos no organismo.

Deve realçar-se que o metotrexato tem um efeito no esperma. Os casais em que o homem está a tomar metotrexato devem utilizar um método contraceptivo eficaz enquanto este estiver a tomar o fármaco e durante três meses após o tratamento ser interrompido.

Fototerapia PUVA: esta pode ser perigosa para o feto devido aos psoralens (químicos sensibilizadores da luz) administrado antes das sessões de fototerapia PUVA.

Possíveis efeitos sistémicos em casos de psoríase disseminada:

Ciclosporina: este fármaco não é perigoso para o feto, mas tem efeitos secundários. Pode ser excepcionalmente prescrito por um curto período de tempo a mulheres grávidas com psoríase grave.
Tratamento UVB: as terapias UVB de estreito espectro que tratam a psoríase disseminada são seguras durante a gravidez.






Amamentar


As mulheres, incluindo as que sofrem de psoríase durante a gravidez e/ou após o nascimento, não devem hesitar em amamentar.

Apenas as mulheres que têm de usar um tratamento sistémico, ou um tratamento local em extensas áreas de pele, devem evitar amamentar, porque estes tratamentos podem ser absorvidos pelo leite materno e serem transmitidos à criança.



* Mowad CM., Margolis DJ., Halpern AC., Suri B., Synnestvedt M., Guzzo CA.: Hormonal influences on women with psoriasis, Cutis May 1998; 6, pp. 257-260.

Os nossos agradecimentos ao Dr. Josiane Parier, dermatologista no Hospital São Luís, e ao Dr. Laurent Misery, dermatologista e investigador no Hospital Universitário de Brest

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